A gestação



O desejo de ser mãe batia forte. Dava vontade de largar tudo e sair correndo para ter um bebê. Eu e Fernando planejamos a gestação. Calculamos datas, sonhamos... E mal acreditamos quando ficamos sabendo que eu estava grávida. Ainda mais porque o primeiro exame deu resultado “indefinido”. Como assim? Como pode uma “gravidez indefinida”? Ou se está grávida ou não se está... Mas, depois vim a saber, tratava-se do início da gravidez, quando o embrião ainda está no seu processo de nidação. Nessa incerteza, eu não poderia, afinal, subir a pedra da Gávea na viagem que fizemos para o Rio de Janeiro no dia seguinte ao exame. Mas eu poderia contar tudo pessoalmente à minha amiga –irmã Lian e passar os dias na cidade maravilhosa pensando que maravilhoso seria se essa gravidez afinal se confirmasse. Na semana seguinte, já de volta a Goiânia, o exame positivo foi certeiro. E desde então eu já comecei a ser imensamente feliz.

Não que seja um mundo colorido isso de estar grávida. Eu achei que fosse. Mas, não é bem assim. Lidar com o imprevisível sempre foi pra mim uma das coisas mais difíceis, e isso é o que define a gestação. O período gestacional me parecia uma louca roleta russa. Tudo poderia acontecer. E já era grande a minha responsabilidade por uma nova vida. Tomar vitaminas, comer isso e não comer aquilo, dormir do lado esquerdo, não correr, não tropeçar, não pular, não comer trash food,  comer 5 frutas ao dia, comer proteínas, usar repelente 3 vezes ao dia, não inalar o veneno do repelente , preparar o corpo para o parto normal, preparar o espírito para o puerpério... Era angustiante não poder estar sobre o controle de tudo. A gestação me colocou de frente com os meus medos mais profundos. Seria eu capaz de gerar? Seria eu capaz de parir? Seria eu capaz de construir uma pessoa humana? Quem eu era de fato e quem eu seria agora?  Cada dia das minhas 39 semanas eu lidava com um medo diferente. E, exaustivamente, com os mesmos medos. Tomava o cuidado de “explicar” para o bebê o quanto esses medos em nenhum momento significavam o contrário, o quanto ele era desejado.

Ele? Ou talvez ela? Minha intuição sempre me disse que  eu engravidaria de um menino. Mas eu não estava muito interessada em saber o sexo. Cheguei a cogitar deixar para descobrir na hora. Engraçado, com esse imprevisível eu lidava muito bem. Porque, realmente, para mim não fazia a mínima diferença saber o sexo do bebê.
 Mas a madrinha, Amanda, nos presenteou com um exame de sexagem no início da gestação. Então entramos no clima da festa de revelação do sexo. Um médico, numa ultrassom, tinha arriscado que seria menina e Fernando chegara a divulgar como notícia no grupo whatsapp da família a notícia. Mas eu fiquei receosa. No final das contas, minha intuição estava certa! Era um
menino! A festa de revelação envolveu toda a família, os primos já começaram a abraçar aquele pequeno na minha barriga com muita energia e amor.

Começamos então a pensar nomes... Pesquisamos alguns e poucos nos interessaram. Estávamos tendendo a colocar Lucas, mas algo parecia não estar certo. Um dia uma prima minha disse que o nome é o bebê quem nos diz. Eu deveria sentir para saber a resposta. E um dia qualquer, bem no meio de uma tarde, num momento em que comecei a beber um copo d'água, veio claro em minha mente: "Gael. Ele simplesmente se chama Gael." E assim foi.

Os dias se passaram com aquela imprevisibilidade dura. Com mudanças no meu corpo e na minha vida que mal se notavam no dia a dia, mas que iam deixando para trás toda uma realidade... Durante esse processo, tive a sorte de ter muito apoio dos meus amores. Pessoas que me incentivaram a conhecer melhor a possibilidade do parto normal, que me chamaram a atenção para a importância de se nascer uma mãe que sabe se doar ao filho já na gestação, que cuidaram da minha saúde e da minha alimentação, que fizeram um monte de chá de fraldas... Tive a sorte de conhecer o meu companheiro Fernando como pai, como um pai incrível, pai que se dispõe a fazer manualmente cada detalhe do quarto, que não perde uma ultrassom, que faz curso gestacional, que se empolga com o projeto canguru, que conversa e beija o filho todo santo dia através da minha barriga, que tira fotos dessa barriga crescendo todo santo mês, que abraça comigo o projeto do parto normal. Minha inevitável solidão de gestante, era aplacada a cada momento. Durante a gestação, dentre tantos medos, conheci o imenso medo de perder o Fernando. Imenso de uma forma nunca antes experimentada.


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